O DOM DO ESPÍRITO
SANTO
Sem força, sem nenhuma energia para fazer o
bem: tal é o estado ao qual o pecado reduziu o homem. Ele não somente caiu sob a
escravidão do pecado — o que faz necessária a sua redenção— mas também se viu
reduzido a um estado de impotência, sem poder agradar ou servir a Deus.
Para compensar esta falta de força, devemos
possuir um poder. Este nos é indispensável tanto para nos libertar de nossa
paralisia interna, produzida pelo pecado, como para nos permitir servir ao
Senhor nas diversas circunstâncias exteriores. Deus nos tem dado este poder, e o
maravilhoso é que Ele enviou o Seu Espírito para habitar em nós. Algo menos que
isso poderia parecer suficiente, mas, em Seu amor e sabedoria, Deus quis que o
Espírito Santo — pessoa divina— fosse a energia ativa do crente. O Senhor
ressuscitado, prestes a subir ao céu, disse aos discípulos: “Recebereis poder,
ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas” (At 1:8).
Esta elevada bênção foi cumprida dez dias mais tarde, no dia de
Pentecostes.
Nascido do Espírito e Habitação do
Espírito
Em Ezequiel 36 e 37 formulam-se profecias
que dizem respeito ao novo nascimento e à vivificação que se cumprirão no
remanescente de Israel, a fim de prepará-lo para a bênção milenar. Nestes dois
capítulos também é abordado o dom do Espírito Santo. “Porei dentro em vós o meu
Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os
observeis” (Ez 36:27), e ”Porei em vós o meu Espírito, e vivereis” (37:14).
Disto resultará para Israel uma vida espiritual que se manifestará por meio de
uma obediência ativa à vontade de Deus.
Outras passagens do Antigo Testamento
contêm promessas semelhantes. Por isso o apóstolo Pedro explicou no dia de
Pentecostes que o que acabava de acontecer era a concretização da profecia de
Joel (At 2:16-21; Jl 2:28-32). Contudo, o dom do Espírito Santo no dia de
Pentecostes implica uma plenitude e uma permanência pouco consideradas no
Antigo Testamento.
O novo nascimento é produzido pelo Espírito
Santo. Disto resulta uma nova natureza, que é espiritual em seu caráter
essencial. Isto, não obstante, deve ser distinguido da morada do Espírito dentro
de homens já nascidos de novo.
É muito útil compreender que o poder do
crente está unido não à sua nova natureza, mas sim à efetiva habitação da pessoa
do Espírito Santo nele. O capítulo 7 da epístola aos Romanos narra a experiência
de alguém que é nascido de novo, visto que possui “o homem interior”, o qual se
deleita na lei de Deus (v. 22). Portanto, aprova o que é bom e o deseja
ardentemente, mas vê-se incapaz de praticá-lo. Só no capítulo 8, depois de o
crente ter contemplado a Cristo, seu Senhor (7:25), lemos: “a lei (ou
autoridade) do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei (ou autoridade)
do pecado e da morte” (Rm 8:2). A força que liberta encontra-se em Cristo e em
Seu Espírito. Em nós mesmos, não temos nenhum poder, ainda que tenhamos uma nova
natureza.
Isto é particularmente certo para dar
testemunho acerca do Senhor ressuscitado. Em Lucas 24:49 e Atos 1:8 o Senhor
indica claramente a Seus discípulos que eles devem esperar ser revestidos de
poder antes de se tornarem Suas testemunhas. Considere que eles tinham seguido
ao Senhor durante três anos e o Espírito tinha operado neles. Ademais, tinham
recebido instruções excepcionais da própria boca do Senhor. Apesar disso, todos
esses privilégios não lhes conferiam força suficiente. Qualquer que tenha sido a
sua diligência para empreender o testemunho, faltava-lhes eficácia até que o
Espírito tivesse sido dado. Mas, a partir desse momento, a boca deles foi aberta
e com que notáveis resultados!
Cheio do Espírito
No dia de Pentecostes, os discípulos não
receberam simplesmente o Espírito para que habitasse neles, antes “todos ficaram
cheios do Espírito Santo” (At 2:4). Quando um crente está cheio do Espírito,
sua carne se torna inativa e nada pode opor-se a Seu poder. Vemos isto em
Estevão, que estava “cheio de fé e do Espírito Santo”, “cheio de graça e poder”.
Os seus adversários não podiam “sobrepor-se à sabedoria e ao Espírito pelo qual
ele falava” (At 6:5, 8, 10 e 7:55). Incapazes de lhe resistir, usaram a
violência como único recurso.
Estar cheio do Espírito não é um estado
permanente, ao passo que ser habitado por Ele é. Com efeito, Pedro foi cheio do
Espírito pelo menos duas vezes (At 4:8 e 31). No entanto, todos os crentes são
exortados a encher-se do Espírito (Ef 5:18). Pode parecer estranho que tal
condição seja comparada ao ato de se embriagar com o vinho. O vinho tem
influência sobre o comportamento do homem; quem dele abusa sente-se agitado e já
não se controla. A ação do Espírito não tem nada que ver com essa influência.
Aquele que está cheio do Espírito controla os seus atos ao mesmo tempo que é
dirigido de maneira conveniente e divina. De fato, nesta passagem, como em toda
a epístola aos Efésios, o que é muito mau é colocado em oposição ao que é muito
bom.
Quando um homem está cheio do Espírito, toda ação carnal é excluída.
Todas as coisas que ocupam os nossos pensamentos, o nosso tempo e a nossa
energia limitam o poder do Espírito. E não se trata apenas das coisas
evidentemente más, mas também de todas aquelas profanas e sem proveito. Por isso
a exortação: “E não entristeçais o Espírito de Deus” (Ef 4:30). Quando O
entristecemos, Ele continua morando em nós, pois a Palavra nos diz que fomos
selados com o Espírito Santo para o dia da redenção (Ef. 1:13-14), mas o gozo e
o poder espiritual se perdem. Experimentamos com tristeza este estado até o dia
em que nos julgamos e deixamos de lado o que tem entristecido o Espírito, que
pode ser a mentira, a ira, as palavras torpes, a amargura, as blasfêmias (Ef
4:25-31). Todas essas coisas são contrárias à ação do Espírito na esfera
individual ou na coletiva.
Andar no
Espírito
Como podemos conhecer o poder vitorioso do
Espírito em nossa vida? A epístola aos Gálatas dá a resposta resumida nesta
exortação: “Andai no Espírito” (Gl 5:16). Depois de termos crido no Evangelho,
Deus nos dá o Seu Espírito, o qual nos sela, mostrando assim que somos Sua
propriedade. Depois disto devemos andar no Espírito. De forma prática, Ele deve
ser a fonte e a energia de nossa vida. O andar é uma expressão figurada de
nossas atividades. Pensamentos, palavras e atos, tudo deve ser submetido ao
controle do Espírito. Desta maneira, não satisfazemos os desejos da carne, os
quais são anulados pelo poder do Espírito.
De maneira figurada, podemos dizer que a
nossa vida está cheia de semeaduras e de colheitas. Cada dia saímos com cestos
de diferentes sementes. Podemos meter a mão no cesto da carne e semear para a
carne, ou podemos buscar no cesto do Espírito e semear para o Espírito. Podemos
ceder à influência das coisas que satisfazem a carne, ou, pelo contrário,
ocupar-nos com as coisas do Espírito e, assim, semear sementes produtivas para a
glória de Deus (Gl 6:7-9). Na prática, “andamos no Espírito” quando estamos
ocupados com os interesses do Senhor e nos alimentamos dEle.
As quedas graves não são as únicas que nos
privam do poder do Espírito. Com freqüência é suficiente uma falta de
concentração nas coisas de Deus. O Espírito toma do que é de Cristo e no-lo
comunica; mas Ele pode estar entristecido devido à nossa preguiça espiritual. Se
você fosse dar alguma notícia importante a um amigo e ele o interrompesse sem
cessar para falar de coisas triviais, certamente você daria por terminado o seu
relato e ficaria entristecido e decepcionado. Da mesma maneira, o Espírito é
sensível a tudo o que diz respeito à glória de Cristo. Tanto O entristece a
falta de atenção como o fato de nós pecarmos. Peçamos a Deus que nos mostre até
que ponto a nossa falta de poder espiritual é resultado disso.
O Espírito, Poder de Serviço
O apóstolo Paulo é um exemplo para os
crentes. Observemos, pois, os resultados da ação do Espírito em sua vida de
serviço. No período de quase vinte e cinco anos, ele evangelizou diferentes
povos que ocupavam vastos territórios. Tal obra não poderia ter sido realizada
sem a energia comunicada pelo Espírito de Deus. A sua pregação caracterizava-se
pela simplicidade (1 Co 2:1-5); todos os ornamentos da eloqüência humana tinham
sido colocados de lado, a fim de que o ato central da cruz fosse visto
claramente. As suas palavras eram “demonstração do Espírito e de poder”. Assim,
as pessoas convertidas por intermédio dele tinham uma fé que não descansava “em
sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus”.
Em si mesmo, ele não era mais que um “vaso
de barro”, mas por meio dele resplandecia o “conhecimento da glória de Deus na
face de Cristo” (2 Co 4:6-7). Através do Espírito, seu serviço tinha um caráter
vivificante (2 Co 3:6). Nos duros combates pelo Evangelho, as suas armas eram
espirituais. Ele derrubava os poderes satânicos entrincheirados no espírito dos
homens sob forma de pensamentos orgulhosos e raciocínios opostos a Deus.
Os crentes resultantes desse ministério
eram a “carta de Cristo... escrita.., pelo Espírito do Deus vivente” (2 Co 3:3).
O Evangelho não tinha chegado a eles “tão-somente em palavra, mas sobretudo em
poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1:5).
O Espírito Santo é um “espírito... de
poder, de amor e de moderação”, a fim de que o crente possa servir ao Senhor
participando “dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus”,
ao mesmo tempo que guarda um equilíbrio sadio em sua atividade (2 Tm 1:7-8 e
14). Para o servo de Cristo, o Espírito Santo é, por Sua vez, fonte de poder e
de fidelidade.
O Espírito, Poder de
Unidade
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo
veio à igreja, a qual passou a ser, desta maneira, “habitação de Deus no
Espírito” (Ef 2:22). O Espírito Santo faz igualmente sua habitação em cada
crente (2Tm 1:14 e 1Co 6:19). Estas duas habitações, ainda que muito
relacionadas, devem ser distinguidas uma da outra.
As bênçãos que até aqui temos estudado
resultam da habitação do Espírito no crente. Elas são muito preciosas; não
obstante, as bênçãos ligadas à Sua habitação na igreja conduzem a um terreno
mais elevado: o do corpo de Cristo, o da união dos crentes com Cristo e entre
si. O Espírito é um poder de unidade: “Em um só Espírito, todos nós fomos
batizados... e a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1 Co 12:13; ver
também 2 Co 1: 21-22).
O Espírito permite o harmonioso funcionamento do corpo de Cristo (1 Co
12:11). Ele promove, em particular, uma doce comunhão entre os santos (Fp 2:1) e
cria neles um poderoso amor, que é a base de todo serviço (2 Tm 1:7). O apóstolo
Paulo, depois de ter exposto os belos resultados deste amor manifestado na
liberalidade entre os crentes, declara: “Graças a Deus pelo seu dom inefável” (2
Co 9:15). Certamente esse dom inefável é o Senhor Jesus, mas também é o dom do
Espírito para cada crente e para a Igreja, uma “superabundante graça de Deus”,
da qual somos beneficiários.